É imperativo compreender a importância da abordagem indígena na análise da Umbhanda, destacando sua singularidade em relação às influências africanistas. A ênfase na cultura negra-africana muitas vezes obscureceu a riqueza da contribuição indígena, fundamental na construção da raiz ancestral e cultural da Umbhanda.
Embora seja inquestionável o impacto significativo dos negros africanos no surgimento da Umbhanda no solo brasileiro, é crucial reconhecer que a raiz desta filo-religião está na espiritualidade. A miscigenação das raças e a pluralidade cultural e teológica no Brasil foram utilizadas pela espiritualidade para difundir uma religião única, fundamentada na caridade e no amor ao próximo.
A Umbhanda, como pronto-socorro espiritual, estabelece a ligação entre o homem e o Divino por meio do encontro e harmonização com as forças da Natureza. Sua raiz não reside no homem, mas no Espírito de Deus. Essa ausência de um codificador, em contraste com o espiritismo kardecista, permite que a Umbanda evite dogmas e mitos, proporcionando liberdade para que os praticantes escolham os caminhos teológico-religiosos que ressoem com suas afinidades. No entanto, a caridade desinteressada, como prova de amor ao próximo, permanece como a senda para alcançar o Pai Maio.
A perspectiva africanista destaca a forte influência da cultura negra no processo de formação da Umbhanda. No entanto, é vital considerar também a visão indígena. Antes da chegada dos europeus e dos africanos escravizados, os Tupi-Guaranís e Tupinambás já estavam estabelecidos no Brasil, com seus próprios ritos religiosos, danças e reverência às forças da Natureza.
A Umbhanda herdou dos indígenas o uso de ervas, defumadores, tabaco e o respeito à Mãe Terra. Suas nove linhas de trabalhos espirituais incorporados, como Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças, Baianos, Boiadeiros, Marinheiros, Ciganos, Linha do Oriente e Guardiões, refletem a influência indígena. A hierarquia dos "Caboclos" na Umbhanda é uma manifestação que remete aos indígenas, incorporando seus arquétipos, cultura, costumes e fé. Essa abordagem indígena enriquece a tapeçaria espiritual da Umbanda, destacando a diversidade e a profundidade de suas raízes culturais no contexto brasileiro.
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MESTRE KALUANÃ – Sacerdote Umbhandista e Juremeiro
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